quinta-feira, 10 de março de 2011

ESPECIAL CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2011

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ÁREAS PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA


Conservar a Amazônia é uma tarefa urgente. É melhor que façamos nós mesmos antes que nos julguem incapazes e questionem nossa soberania.

    O desenvolvimento sustentável surgiu, no final da década de 80, como um novo paradigma para nortear as políticas de longo prazo de comunidades, municípios, estados, países e do Planeta como um todo. Em poucas palavras, significa melhorar a qualidade de vida dos que vivem hoje, sem prejudicar as próximas gerações que nos sucederão. Significa considerar não apenas as dimensões econômicas e sociais do desenvolvimento. Implica na incorporação de objetivos ecológicos como a conservação dos recursos hídricos, a atenuação das mudanças do clima, a conservação das florestas e da biodiversidade. Sem isso não haverá um futuro promissor para todos, ricos ou pobres.
   
    Traduzir o ideário do desenvolvimento sustentável em ações práticas e coerentes não é tarefa fácil. Significa, em muitos casos, uma mudança drástica no nosso estilo de desenvolvimento. Tomemos o caso das florestas. Nos últimos 500 anos, as florestas brasileiras vêm sendo tratadas como um garimpo estorvador. Como garimpeiros, saqueamos as florestas das suas madeiras nobres, palmitos e orquídeas, para depois atearmos fogo no resto. Como desbravadores, vemos o “mato” como sinônimo de atraso, um estorvo no caminho do progresso a ser materializado na forma de pastos e plantações. Na Mata Atlântica o sucesso foi quase completo: conseguimos saquear e remover mais de 90% desse estorvo.

    Na Amazônia estamos fazendo o mesmo. Substituindo indiscriminadamente as florestas por pastos e plantações. Isso é sustentável? Absolutamente não! Ao desmatarmos, destruímos nossos rios, ficamos sem peixes e terminamos com racionamento de água e energia hidroelétrica.

    Contribuímos para a mudança do clima, como resultado da fumaça que cobre os nossos céus e se abriga na atmosfera. Além disso, deixamos de produzir madeiras, palmitos, orquídeas etc. Muitas espécies são perdidas sem ao menos serem fotografadas por curiosos ou descritas por pesquisadores.

    Para agravar o quadro, tornamos impossível a permanência da população rural no interior, que migra rumo às cidades, compondo um quadro desolador de miséria e violência em nossas capitais. Ainda há tempo para que a Amazônia não repita a história da Mata Atlântica. Existem, felizmente, alternativas. O ponto de partida é mudar os pressupostos e orientações das políticas públicas e o comportamento e os valores de cada um de nós. O desenvolvimento pode, sim, ser feito com a manutenção das florestas. Entretanto, isso não deverá ser resultado do altruísmo dos indígenas, extrativistas, colonos, fazendeiros e empresários. Necessitamos de políticas públicas capazes de mudar a lógica econômica da fronteira do desmatamento.

    A equação é simples. A manutenção das florestas deve ser economicamente mais rentável do que os benefícios do garimpo florestal e da agropecuária. Para isso o produtor rural tem que obter maiores rendimentos dos produtos florestais madeireiros e não madeireiros e dos serviços ambientais prestados por suas florestas (conservação dos rios, biodiversidade, clima etc). O Estado do Amazonas está determinado a implementar uma política de desenvolvimento sustentável voltada para a conservação das florestas e a melhoria da qualidade de vida das populações rurais, com especial atenção para os segmentos extremamente empobrecidos.

    É inadmissível que indígenas, ribeirinhos e colonos, moradores de ecossistemas riquíssimos, sejam miseráveis e dependam de políticas assistencialistas. É também inadmissível que essas populações sejam forçadas a desmatar, na busca de melhorar o seu bem estar.

Virgílio M. Viana - Ph.D. pela Universidade de Harvard e Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas.

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