O mês de junho chegou, e com ele seus aromas, sabores e uma religiosidade própria. Os costumes peculiares dessa época do ano já enraizaram em nossas memórias momentos singulares de convivência e afeto. Os festejos juninos fazem parte do grande pacote cultural brasileiro, uma vez que todas as regiões, cada qual ao seu modo, realizam manifestações motivadas pela fé e o testemunho de vida de grandes homens: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo.
Antônio de Pádua, ou de Lisboa dependendo o costume, viveu em uma época de constantes transformações sociais, mesmo assim foi um grande conhecedor e estudioso da doutrina cristã de seu tempo, definido como "possuidor da ciência dos anjos", com influências filosóficas aristotélicas. Vinculou-se a ordem agostiniana e em seguida a franciscana, segundo consta em alguns registros históricos, conheceu Francisco de Assis, fundador da obra. O exemplo da caminhada de Santo Antônio nos expõe o desafio da Igreja de hoje: aliar o conhecimento e a ciência com o apelo pastoral e de socorro aos necessitados, de maneira que se ajudem e concorram para o bem comum. A fidelidade aos preceitos e o amor pela missão fizeram com que Antônio renunciasse uma vida confortável e estável em prol de um projeto maior e divino, andando de povoado em povoado pregando a Boa nova aos irmãos e amparando os esquecidos. No Brasil sua devoção, trazida pelos portugueses, espalhou-se por todos os cantos, munidos da crença que pela oração por sua interseção encontraremos aquilo que está perdido, inclusive nos assuntos do coração.
João, o Batista, filho de Isabel e primo de Jesus foi aquele que preparou os corações para o início da vida pública do Senhor. Questionado pelos fariseus se era o messias e com que autoridade batizava, respondeu: "Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías" (Jo 1,23).
A primazia profética do anúncio de João Batista buscava mostrar que o Reino de Deus está aberto à todos que o acolham sinceramente e com renovado ardor missionário. Seu compromisso com a obra salvífica lhe custou o martírio, segundo ordens de Herodes, João teve seu cabeça decapitada para satisfazer a vaidade de Herodíades e sua mãe. Inspirados pelo seu modelo de vida e doação somos chamados a assumir uma postura de profetas, mesmo que as provações de nosso tempo levem-nos até as últimas consequências. Veneramos São João Batista de maneira muito especial por ser padroeiro de nossa comunidade diocesana.
Por fim, Pedro e Paulo, pilares da Igreja, sustentáculos da nossa fé. O primeiro era pescador, homem simples que aceitou o chamado do Mestre e ganhou dele a confiança de edificar a Igreja em nosso meio, sob o efeito de ligar e desligar aquilo que unisse o Céu e a Terra, apascentando suas ovelhas. Pedro é a figura de cada um de nós, pois apesar de seu inquestionável amor por Jesus tinha sua fé sacudida inúmeras vezes, porém sempre buscou ser firme e coerente, o que o torna mais humano e próximo. A narrativa dos Atos dos Apóstolos deixa claro que a missão após a ressurreição de Jesus foi árdua, porém a rocha alicerçou a comunidade nascente, e hoje, quase dois mil anos depois, continua dando testemunho cristão e congregando mais de um bilhão de pessoas ao redor do planeta. A barca de Pedro também é a nossa e nos conduz navegando em mares de águas turbulentas. A tradição cristã diz que no momento do martírio o discípulo não quis morrer como o Mestre, sendo assim, foi crucificado de cabeça para baixo.
Paulo de Tarso, por sua vez, foi iluminado pela conversão na estrada para Damasco e passou de perseguidor a convicto defensor de Cristo, unido-se aos seus seguidores, essa certeza pode ser contemplada na beleza de suas epístolas, que embasam a teologia cristã, e nas ações de seu testemunho. Assumiu com plena fé o desafio da evangelização dos gentis, saindo de sua segurança e esvaziando-se de si mesmo para manifestar a face misericordiosa do Pai. As estruturas enrijecidas porém, não aceitaram o apelo de unidade de Paulo, colocando-o na prisão.
Que o exemplo desses homens nos inspirem a renúncia de nossas comodidades e a entrega por completo, para que assim alcancemos a salvação.
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