No dia 28 de janeiro celebra-se no Brasil o dia nacional de combate ao trabalho escravo. Não há dúvidas que nestas últimas décadas no Brasil houve avanços significativos na defesa dos direitos humanos com a elaboração e a promulgação de estatutos que defendem as categorias de pessoas mais vulneráveis e indefesas. Baste pensar no Estatuto da criança e do adolescente, da pessoa idosa, na lei Maria da Penha, na lei contra a discriminação racial etc. Isso honra o nosso país e cria uma cultura sempre mais sensível na defesa dos direitos da pessoa humana.
Pouco se divulga uma realidade triste, presente em quase todos os estados da União e que atinge cerca de 25.000 pessoas submetidas às condições análogas ao trabalho escravo. É a escravidão “moderna” onde não há tráfico nem comercialização de pessoas, como acontecia na época colonial, mas onde a privação da liberdade continua sendo a principal característica dessa prática.
O maior número de seres humanos submetidos ao trabalho escravo encontra-se no campo e está ligado ao latifúndio ou à extração de minério, mas existe também em regiões de grande desenvolvimento turístico onde os empregados (homens e mulheres) não tem nenhum direito, são explorados de todas as formas e carecem de apoio, pois estão a serviço e à mercê de pessoas da alta sociedade: artistas, juízes, promotores, grandes empresários que intimidam e escravizam.
E tudo isso em nome do progresso e do desenvolvimento! Parece que na nossa serra chegou o Eldorado, se encontrou o país das maravilhas! Porque assim todo mundo ganha mais, tem trabalho para todos! Mas, a custo de que? Da descaracterização da região com a invasão agressiva de novas, grandes e numerosas construções, da perda ou diminuição dos valores familiares, comunitários e religiosos por falta de tempo para cultivá-los, exploração no trabalho pois quem manda é a necessidade ou o capricho do turista que não se importa com a saúde e a situação de quem está a seu serviço. Este é o preço que se paga!
Parece que ganhar dinheiro tornou-se a finalidade da vida e que a lei da vida seja ditada pelo deus mamona! Desta forma o trabalho humano perde o seu sentido de ser “humano” para se tornar “mercadoria”, objeto de lucro e exploração! Se é difícil combater o trabalho escravo pelos interesses que estão em jogo e pelo status das pessoas que dele se beneficiam, mais difícil é derrotar a cultura do ter que impulsiona muitas pessoas a serem escravas do trabalho só para acumular, para ter cada vez mais ou para competir motivadas pela vontade de manter e aparentar um estilo de vida de alto nível econômico a qualquer preço!
Deparamo-nos aqui com uma das raízes dos males que desde sempre estragou a convivência entre os seres humanos e que João bem descreve na sua primeira carta: “Tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a ostentação da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo”. (1 Jo 2,16). O próprio Jesus chama de insensato o homem que acumula para si e não se enriquece diante de Deus (cfr. Lc 12, 13-21) e condena “o grande abismo” entre ricos e pobres construído por quem se locupleta insensível ao clamor dos últimos. (cfr Lc 16, 19-31). Combater o trabalho escravo e libertar o coração humano da escravidão da ganância exige uma conversão que, a partir da dignidade e da consciência de cada ser humano, atinja a organização da sociedade e suas estruturas econômicas e políticas, para que sejamos livres da liberdade que Jesus nos conquistou!
Dom Francisco Biasin
Bispo da Diocese de Barra do Piraí Volta Redonda (RJ)
Bispo da Diocese de Barra do Piraí Volta Redonda (RJ)
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