E então, amigo José?
Que te falo eu da luta de todos os dias? Dessa rotina de cansaços e de labutas, desse pegar pesado que deixa as horas livres curtas demais e as incertezas quanto ao futuro pesadas demais?
Assim te falo, amigo José, porque de trabalho tu entendes. E como eras infantigável e dedicado, perfeccionista e paciente... Tua mulher nunca te ouviu reclamar e nem precisava te pedir que buscasses água no poço da aldeia, porque tu adivinhavas tudo.
Que te falo eu desse medo da violência e da injustiça que nos assalta pelos caminhos? Desse receio de ir e não voltar, de deixar o filho sair e não vê-lo dormir em sua cama, de não saber o que fazer diante do mal, da mentira, da desconfiança?
Assim te falo, amigo José, porque desses medos tu entendes. E como não hesitaste em te refugiar no Egito quando ameaçavam teu filho e em proteger tua família com tua própria vida.
Que te falo eu desse fogo em meu peito humano, desse Deus que me questiona, me cerca, me ama mais do que consigo sentir ou imaginar? Desse Senhor que me conhece minhas entranhas e intui todos os meus desejos e meus pensamentos, e que me deixa tão livre como o sopro do vento entre as folhas abandonadas das palmeiras verdes?
Assim te falo, amigo José, porque desse Deus tu entendes. E Ele te falava em sonhos e te tratava como filho querido e servo fiel. Agora que com Ele tu estás face a face, segreda-lhe sobre meus receios e meus cansaços, sobre minhas inquietações e minha fé, e também de meu amor tão frágil. E se achar conveniente, meu bom amigo, pede a Deus que fale em meus sonhos e me mostre o caminho que devo seguir para poder levar sempre seu Filho, se não em meus braços, ao menos em meu peito.
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