Vi uma grande multidão que ninguém podia contar. Estavam todos diante do trono e do Cordeiro. Vestiam vestes brancas e traziam palmas na mão (..) Quem são e de onde vieram esses que estão vestidos com roupas brancas? (..) São os que estão chegando da grande tribulação. Eles lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do cordeiro” (Ap 6,9.14)
O mundo está presenciando através dos meios de comunicação o aumento da perseguição aos cristãos ao redor do mundo. Cada dia chega ao nosso conhecimento notícias de cristãos perseguidos, hostilizados, decapitados, crucificados e mortos ou que foram obrigados a abandonarem suas casas, países, para não serem mortos, tudo por causa da fé que professam.
O século 21 iniciou-se sob o sinal de inumeráveis mártires. Cresce a cada dia o número de cristãos torturados, mortos ou expulsos de suas terras por causa de fé em Cristo. São milhares de cristãos martirizados, em pleno século 21, em países como Coreia do Norte, Irã, Sudão, Paquistão, Afeganistão, entre outros. Um caso típico desta perseguição acontece no Iraque, onde, antes da invasão dos Estados Unidos da América e a queda do regime de Saddam Hussein, o número de cristãos era de 3 milhões; hoje, somam-se, no máximo 400 mil, ou seja, mais de 90% dos cristãos estão deixando sua terra por causa da perseguição sofrida por grupos radicais islâmicos que destroem igrejas e matam cristãos.
Conforme o site “Portas abertas” (portasabertas.org.br , Consultado no dia 08 abril 2015) – os países onde os cristãos enfrentaram a maior pressão e violência atualmente são: a Coreia do Norte, Somália, Iraque, Síria, Afeganistão, Sudão, Irã, Paquistão, Eritreia e Nigéria. Em 2014, mais países ingressaram na lista dos países onde há mais perseguição aos cristãos, Sudão, Eritreia, México, Turquia e Azerbaijão.
O Papa Francisco expressou preocupação com a perseguição de cristãos em vários países em sua mensagem de Páscoa de abril de 2015. Diz o Papa: “Pedimos a Jesus que alivie o sofrimento de tantos irmãos e irmãs perseguidos por causa de seu nome, assim como de todos que padecem injustamente pelas consequências dos conflitos e violência”. O Papa disse que suas orações estão com os jovens mortos no ataque à Universidade Garissa, no Quênia, onde 148 pessoas morreram por militantes do Al- Shabab, que teriam separado cristãos de muçulmanos, em 02 de abril de 2015.
Na mensagem de Sexta-feira Santa em Roma, durante a Via Sacra (03 abril 2015), o Papa condenou o que chamou de “silêncio cúmplice” sobre a morte de cristãos, perante a “fúria jihadista” que atinge os cristãos citando o massacre no Quênia e a decapitação de 22 egípcios coptas por militantes do autodenominado Estado Islâmico na Líbia, em fevereiro. O Papa pediu na segunda-feira (6 abril 2015) para a comunidade internacional “não assistir muda e inerte um crime inaceitável que constitui uma preocupante violação dos direitos humanos mais elementar, a perseguição dos cristãos em várias partes do mundo”. O mundo presencia pessoas perseguidas, exiladas, assassinadas e decapitadas apenas pelo fato de serem cristãos. Como dizia João Paulo II aos delegados da “Ajuda à Igreja que Sofre” reunidos em Roma: “… nem toda a gente ouve esses cristãos que sofrem em silêncio…”.
Estes são os mártires de hoje, os mártires dos nossos dias, homens, mulheres e crianças que são perseguidos, odiados, expulsos das casas, torturados, massacrados. Os mártires atuais, que terminam a sua vida sob a violência de pessoas que odeiam Jesus Cristo. O Papa Bento XVI durante a oração do Angelus na Praça São Pedro (26 dezembro 2007), dedicada à memória litúrgica de Santo Estêvão – primeiro mártir cristão – anuncia: “Quantos filhos e filhas da Igreja seguiram este exemplo ao longo dos séculos. Desde a primeira perseguição, em Jerusalém, à praticada pelos imperadores romanos, até a longa lista dos mártires de nossos dias…”.
Conforme o Evangelho de João 15,18-21, os discípulos de Jesus terão de enfrentar o ódio do mundo, tal como o próprio Mestre o enfrentou. Os discípulos serão perseguidos pelo mundo, porque ele não suporta aqueles que se opõem aos seus princípios. Os que optaram por Cristo são considerados estranhos e inimigos pelo mundo. O ódio do mundo manifesta-se na perseguição contra a comunidade dos discípulos de Cristo ontem e hoje. Mas estes não devem desanimar na sua vida de fé e no cumprimento da missão de evangelizar. A perseguição e o sofrimento são vividos em união com o Senhor. A vida dos discípulos é idêntica à de Cristo: “Se me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir a vós”.
O cristão não deve temer se, ao seu lado, verificar perseguição, críticas, indiferença e hostilidade. É sinal de que ele é fiel a Cristo martirizado e à Sua palavra de cruz.
Fortalecidos pela presença de Cristo, e dóceis ao seu Espírito, devemos empenhar-nos, como cristãos, em denunciar o pecado, em trabalhar para que o mundo dos homens, o nosso mundo atual, com as suas forças, os seus dramas, se abra ao Reino de Deus.
Na carta apostólica de preparação ao Grande Jubileu do ano 2000, a Tertio Millennio Adveniente, João Paulo II propôs-se recuperar a memória dos cristãos que morreram em nome da fé no século XX: “No nosso século, voltaram os mártires, muitas vezes desconhecidos, como ‘soldados desconhecidos’ da grande causa de Deus. Na medida do possível não pode perder-se na Igreja o seu testemunho” (TMA, 37).
Nosso objetivo aqui é recordar a doação de cristãos que morreram porque eram cristãos: “A história do seu assassínio é a história da sua fraqueza e derrota. E justamente na sua condição de extrema fraqueza, os cristãos revelaram uma força peculiar de caráter espiritual e moral: não renunciaram à fé, às próprias convicções, ao serviço dos outros e da Igreja, para salvaguardar a própria vida e garantir a sobrevivência. Manifestaram uma grande força mesmo em condições de extrema fraqueza e de grande risco. Essa é uma realidade da história do cristianismo. O cristão do século XX é chamado a refletir sobre essa realidade, para descobrir qual é a “força” do cristianismo. É também uma realidade que se impõe a quantos desejam compreender melhor a história do século passado” (cf. o livro de Andréa Riccardi, O século do martírio – os cristãos no século XX, Mondadori, Milão, 2000, p. 12).
“A Igreja sempre acreditou que os apóstolos e os mártires de Cristo que, pela efusão do seu sangue deram o supremo testemunho da fé e da caridade, estão conosco estreitamente unidos em Cristo, e venerou-os sempre com particular afeto…” (Lumen Gentium, 50). Com o mesmo afeto queremos honrar os nossos irmãos e irmãs que deram a vida para servir a causa do Evangelho e estamos gratos a Deus por eles.
Padre Mário Marcelo Coelho, scj
Doutor em Teologia Mora
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