Parece que se espalhou a idéia, jamais confirmada, de que “quanto mais culto, mais ateu”.
Esse é um boato que se procura espalhar, para dar um ar de vencedores, aos que se distanciaram de Deus. Já o aforismo de que “meia ciência afasta de Deus, e muita ciência aproxima de Deus” continua sendo confirmado. Pode até ter sido uma imprudência. Mas entrei em contacto com vasta literatura agnóstica ou atéia dos nossos dias (para ver o que os adversários estavam tramando). Não tenho a impressão de que sempre sejam despidos de sinceridade. Mas tais obras me deram a nítida convicção de que nem de longe entraram na essência do assunto.
O que esses pensadores abordam e procuram destruir não é o admirável Deus de Jesus Cristo, o mistério por excelência, mas a divindade descrita por Descartes, Leibniz e outros. Para começar, nenhum dos críticos aborda o Deus-comunidade das três divinas pessoas. Assumem como seu tema o deus solitário, que seria apenas uma força do universo. E não uma pessoa, como já ensinavam os judeus. Realmente, esse deus-força nada me diz. Eu quero o Deus vivo, o Deus comunicação, que deseja a minha realização plena. Ouvi-os falar muito contra o Deus Criador, pouco contra Jesus Cristo, e nada contra o Espírito de vida (parece que o desconhecem).
Pergunto-me: por que essa luta hercúlea contra a divindade? Tudo nasce de um grande equívoco. Trata-se da alternativa: só existe espaço, ou para mim, ou para Ele. Na verdade o Pai Justo (como fala Jesus), é extraordinariamente audaz e confiante na criatura humana. Pôs o universo em perigo, ao confiar ao “homo sapiens” a guarda do cosmos. O que é um alto risco. Deus, que não é adepto da tragédia (quando tudo termina mal), prefere o drama, onde as dificuldades podem ser ciclópicas, mas tudo termina bem. A impressão que me fica, salvo melhor juízo, ao conhecer o pensamento filosófico de vários ateus, é que eles nada captaram ainda do Deus de Jesus Cristo. Este continua sendo um mistério desafiador. Apesar de tantos mal-entendidos, Ele não seqüestra nossa liberdade. “Há um Deus no céu que revela os segredos” (Dn 2, 28).
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