O estudo da “Lectio divina”
O estudo da “sagrada página” ou “lectio divina”, como se custumava chamar o estudo da Teologia na época, ocupava-lhe todo o dia e parte da noite. Verdadeiramente, era incansável quando se tratava de estudo. Era um estudante austero e mortificado. Abstinha-se de beber vinho e daqueles passatempos que a juventude apreciava. Domingos vivia atento às necessidades do próximo e sentia-se profundamente solidário com os sofrimentos do outro. Fez de sua casa, a “casinha de esmola”, o dispensário onde os pobres podiam encontrar alimentos, roupas e até dinheiro para comprar a liberdade de algum cristão cativo dos mouros.
Os seus livros foram entregues parar ajudar os pobres
O método seguido na época obrigava a estudar os comentários bíblicos dos Santos Padres. As questões de difícil interpretação eram submetidas a uma disputa pública, …(que) terminava com o ditado de alguns comentários explicativos, chamados “glosas”. O aluno copiava-os em tábuas de cera e, ao voltar para casa, transcrevia cuidadosamente em seus livros de pergaminho, especialmente preparados com couro de cabra; eram, pois, muito valiosos.
Comovido pela extrema situação dos pobres, entregou tudo o que possuía e, quando já não tinha o que repartir, não duvidou em vender os seus livros de pergaminho, escritos por seu próprio punho. Quando seus mestres e companheiros tentaram impedi-lo, Domingos respondeu: “Não quero estudar com peles mortas, enquanto os homens morrem de fome”.
Certo dia, uma pobre mulher apresentou-se a Domingos, suplicando-lhe, com lágrimas nos olhos, uma ajuda em dinheiro, para resgatar seu irmão, feito prisioneiro pelos mouros. Naquele momento, Domingos estava sem dinheiro e não sabia como ajudá-la. Então, “cheio do espírito de caridade, colocou-se à venda para resgatar o prisioneiro”…Assim, Domingos entendeu que o povo necessitava de outro tipo de ajuda. Oportunamente, Deus enviar-lhe-ia um mensageiro para ensiná-lo.
São Domingos, Cônego Regular
Na Universidade, Domingos conheceu e fez amizade com seu professor, Diego de Acevedo, cônego e prior do Cabido de Osma. A ele abriu seu coração e manifestou o desejo de ser sacerdote…Desde aquele dia, Domingos começou a pertencer ao Cabido de Osma. Professou e jurou observar a Regra de Santo Agostinho, vestindo o hábito dos cônegos regulares…Desse modo, Domingos, incorporou-se definitivamente nesta feliz comunidade, no ano de 1196, com apenas vinte e seis anos de idade…Por sua profissão religiosa, renunciou à posse de bens. Visto ser de uma família rica, poderia herdar muitos bens e comodidades próprias de sua condição social. Deste modo, Domingos entrou pelo caminho estreito do segmento de Cristo, “que sendo rico se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”.
De acordo com seu novo estado de vida, Domingos passava longas horas do dia e da noite em oração e em discernimento dos projetos de Deus sobre sua vida.
Domingos, cuja vida estava plenamente identificada com a de Cristo, “se comovia até a alma e chorava” pelos pecadores, pelos pobres, pelos doentes…
Em suas orações aos pés do sacrário, torrentes de lágrimas banhavam seu rosto, e seus irmãos podiam ouvir os gemidos de sua alma, aflita pelos sofrimentos da humanidade.
Suplicava entre soluços: “Senhor, que será dos meus irmãos pecadores?” Este era o gemido freqüente de sua alma…
Facilmente concede dispensa a seus irmãos, porém não se dispensa a si mesmo jamais. Tanto saudável quanto doente, observava todos os jejuns prescritos pela Regra.
“O Prior tenha no seu convento a faculdade de dispensar os irmãos, quando achar conveniente, principalmente aquele que impede o estudo, a pregação, e a salvação das almas; portanto, nosso empenho deve dirigir-se, em primeiro lugar e com plena dedicação, que possamos ser úteis as almas do próximo”.
Domingos não só pregava ao povo e aos hereges “quase que diariamente”, mas também aos irmãos. Queria que sua pregação fosse uma contínua conversão de todos.
Ordenação Sacerdotal
A ordenação sacerdotal de Domingos, aos 25 anos, veio dar resposta à sua inquietude. O seu sacerdócio deu-lhe a faculdade de pregar o Evangelho.
Do livro "Nas pegadas de São Domingos de Gusmão". Ir. Maria Izabel Coenca.
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